domingo, 9 de novembro de 2008

Resistência à insulina

11/8/2008 - Agência Fapesp
Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Um estudo realizado com adolescentes obesos demonstrou a relação entre distribuição da gordura corporal e resistência à insulina, distúrbio que foi verificado em 57,1% dos participantes.
A resistência à insulina é uma desordem metabólica que pode aumentar o risco de doenças crônicas. Segundo os pesquisadores, a gordura do tronco foi significativamente associada com o problema, demonstrando a importância clínica da obesidade abdominal durante a adolescência. O trabalho encontrou também valores elevados de insulina em 40,2% dos adolescentes pós-púberes.
"Os resultados obtidos reforçam a importância do controle de peso para a saúde dos adolescentes tendo em vista as complicações metabólicas apresentadas e o aumento no risco de doenças e agravos não transmissíveis, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares", disse a primeira autora do estudo, Luana Caroline dos Santos, professora adjunta de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), à Agência FAPESP.
O trabalho foi publicado na revista São Paulo Medical Journal, tendo como outros autores os professores Isa de Pádua Cintra e Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo, e Lígia Araújo Martini, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
Participaram da pesquisa, resultado da tese de doutorado defendida por Luana na FSP-USP, 49 adolescentes obesos – 12 meninos e 37 meninas – com média de idade de 16,6 anos e média de índice de massa corpórea (IMC) de 35 kg/m². Ficaram de fora jovens com doenças crônicas, que tomassem medicamentos alteradores de peso, glicose e do metabolismo lipídico ou que apresentassem peso acima de 120 quilos.
Segundo o estudo, os resultados permitem relacionar o acúmulo de gordura, sobretudo aquele localizado na região central, com a resistência à insulina.
"Identificamos que a obesidade, mesmo em idades precoces, altera o controle metabólico do organismo e aumenta a possibilidade de desordens como a resistência à insulina", disse Luana, ao destacar que a população de estudo se constituía de adolescentes clinicamente saudáveis e que apresentava excesso de peso ainda sem tratamento.
Mudanças alimentares
De acordo com Lígia Martini, orientadora da pesquisa, a resistência à insulina que acomete os adolescentes é similar à verificada em adultos, inclusive com elevação do risco de ocorrência de diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares.
"O problema é mais fácil de ser tratado quanto mais precocemente for verificado e envolve mudança de modos de vida, incluindo a prática de atividade física, e a adoção de uma dieta equilibrada para redução e controle do peso. Em alguns casos, pode ser necessária a inserção concomitante de terapia medicamentosa", disse a professora do Departamento de Nutrição da FSP-USP.
Segundo ela, o aumento da ocorrência da resistência à insulina verificado nas últimas décadas se deve à chamada transição epidemiológica, caracterizada pelo aumento nas taxas de mortalidade específica por doenças transmissíveis e pela redução das não transmissíveis, por mudanças de hábitos alimentares e pelo aumento da obesidade. Além disso, pesou também o acelerado envelhecimento da população e a rápida difusão de hábitos e comportamentos, atribuída ao processo de globalização.
"A mudança dos hábitos alimentares verificada na população brasileira certamente representa o fator de maior impacto nesse quadro, associado ao aumento da inatividade física. Os fatores genéticos também são importantes, mas são responsáveis por menos de 10% dos casos de resistência à insulina", afirmou.
Gorduras localizadas
O estudo avaliou a composição corporal de gordura e músculos. Para medir o consumo de alimentos, os participantes anotaram por três dias não consecutivos os alimentos consumidos, incluindo líquidos e suplementos alimentares. A resistência à insulina foi calculada pelo índice Homa-IR (Homeostasis Model Assessment of Insulin Resistance).
"Essa metodologia foi escolhida considerando os objetivos propostos para o estudo. As limitações eram pequenas, como incapacidade de avaliação de indivíduos com peso superior a 120 quilos ou o esquecimento da anotação de algum alimento no registro alimentar para avaliação do consumo alimentar", explicou Luana.
O maior número de meninas se deveu a maior resposta aos anúncios de divulgação do trabalho. "A obesidade no sexo feminino se caracteriza freqüentemente pela maior deposição de gordura na região glúteo-femural (gordura ginóide), enquanto no sexo masculino a deposição ocorre comumente na região abdominal (gordura andróide). A localização da obesidade na região abdominal está mais relacionada à ocorrência de desordens lipídicas, hipertensão, diabetes e aumento do risco cardiovascular", disse.
Segundo a autora, o estudo prosseguiu com o atendimento interdisciplinar dos adolescentes no Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp por dez meses, quando se verificou redução significativa da resistência à insulina. Mas os novos dados ainda não foram publicados.



Ludmila Aragão Feitosa

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